Explicitação partidária da imprensa nessas eleições
O leitor da revista Carta Capital, Elias Botelho, incentivado a comentar o papel da imprensa no processo eleitoral não apenas deu sua opinião como demonstra que informação, comunicação é assunto de todos e, dessa forma, deve ser discutido e acompanhado não apenas por uma casta. Reproduzimos o texto do advogado, que foi originalmente publicado no site da Carta Capital.
Por Elias Botelho
Segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Não tem mais como negar que no Brasil se instalou um novo partido político um pouco diferente dos convencionais: a imprensa. Ainda não oficializaram o seu registro no TSE, mas nem sei se precisa tal regularização ou se prefere viver apenas como fachada de uma instituição social. A mídia, nessas eleições, demonstrou de uma vez por toda que é um partido político de direita, talvez, raivoso e radical.
A imprensa é livre e assim será. O homem é livre e assim será. Ambos podem agir ao seu talante. A diferença, pois, é que os humanos quando praticam algum tipo de delito podem ser compelidos a pagar uma pena. O que faz do homem, um ser sociável, refletir duas vezes antes de destilar seu ódio em face de alguém. A mídia, ao contrário dos humanos, pensa um pouco diferente, sabe que pode ser chamada a responder por atitudes impertinentes e desprovidas de inverdades, mas prefere ironizar e desdenhar ao som de uma modinha popular: “tô nem aí, tô nem aí…”
Mesmo assim, vestida num manto visível da liberdade de expressão e o direito a informação, diz o que bem entende, parcializa e achincalha pessoas inocentes ou não. Age assim, imagino, porque adotamos no Brasil o “no law“, – sem regulamentação. Sempre achei que a liberdade de expressão, não coaduna, em parte, com quem explora comercialmente a mídia em geral. Aí, me lembro de um velho aforismo: “onde há dinheiro, há maldade”.
Nem é preciso enumerar as ações que demonstram o partidarismo da grande maioria da imprensa e radiodifusão. O jornal “O Estado de S. Paulo”, por exemplo, dentre os grandes veículos de comunicação é o que, quiçá, não teve vergonha de mostrar claramente que é partidário. Suas publicações não deixaram dúvidas de que tem lado.
As organizações Globo, a revista Veja e outros, ainda tentam camuflar suas preferências partidárias. Esse fenômeno não é novo. No passado tais preferências derrubaram políticos importantes e até levaram ao suicídio Getúlio Vargas. Não pouparam lideranças como João Goulart e JK. Lembre-se, ainda, deram apoios incondicionais a todos os golpistas da época.
O que mais impressiona, são bons profissionais do ramo que acabam por defender os mesmos princípios ideológicos dos patrões. Infelizmente, Isso parece acontecer, em todas as formas de governos: timocrático, democrático, fechado, aberto, etc.
Assim, o que vimos nessas eleições de 2010, não deixam dúvidas quanto a explícita demonstração de partidarização da grande mídia, pelo menos, em relação ao governo Lula. Não aceitam a idéia de que o Brasil vem mudando de fato. Não se sabe ao certo, mas há quem diga que a rapidez com que as mudanças estão acontecendo no país, parece ameaçar pequenos oligopólios detentores da mídia. Isso não é só no jeito de governar da esquerda, mas ainda pelo surgimento de novos meios de comunicação como a Internet, Celular e TV por assinatura que vêm demonstrando uma nova forma de interação, principalmente, para aqueles que não tinham acesso ao mundo da informação.
O que existe hoje é uma contradição entre a vontade da mídia raivosa e o sentimento do povo brasileiro em relação a sua nova condição de vida. Oito anos do governo Lula, a imprensa ideológica foi oposição de forma velada. Não se valeu apenas da liberdade de expressão prevista em nossa Constituição, que é produzir idéias para que o público forme sua opinião. Foi além. Apelou de todas as formas, mas não teve jeito. Deve, a partir de agora, repensar num novo modelo de difundir pensamentos e idéias. Já não enganam mais.
Afinal, o que ficou claro até agora, é o que alguns estudiosos já aclamaram: “a verdade sempre triunfa sobre a perseguição”. O que parece certo e valeu para a sociedade, foi o que ela pode enxergar e, não o que tentaram mostrar.
Elias Botelho é advogado e escritor
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